12/10/2009

O efeito Chocolate

Num desses meus novos fins de semana solitária resolvi parar de bobeira e parar de esperar as amigas quererem sair. Resolvi encarar a vida noturna mesmo sem companhia. Não agüentava mais ficar em casa, assistindo comédias românticas que só me faziam afundar numa fossa sem fim. Dei uma olhada nas opções e decidi ir para uma festa no meu bairro. Eu sei, não era bem uma balada, mas um passo de cada vez, certo?! Além do mais, não precisaria de carro (nem de amigo motorista), não ia parecer tão estranho eu chegar sozinha, a festa tinha música, boa comida e era muito provável que eu encontrasse algum vizinho ou conhecido com quem pudesse papear. As coisas, como você já deve imaginar e como tudo nesse blog, não saíram bem do jeito que eu queria. Rodei pelo salão umas duas vezes e não vi ninguém, nenhum grupinho conhecido com quem pudesse me juntar. No início isso não me chateou. Vi muita gente mais jovem do que eu, se divertindo, vi muitas famílias e muitas crianças. Fiquei contagiada por aquela sensação e fiquei tranqüila. Na maior naturalidade, sentei em uma tenda para tomar um caldo bem quentinho e ver as pessoas passarem. Foi aí que comecei a reparar que as pessoas em volta estavam olhando pra mim, como se eu fosse uma alienígena. Minha reação nessas horas é sempre checar a minha roupa, sou mestre em derramar comida, principalmente caldo. Mas infelizmente, não havia nada, eu estava limpinha. Sim, infelizmente, porque agora só havia um motivo para eles estarem me encarando, era porque eu estava sozinha. Aquilo me consumiu. Como um olhar apenas pode ser tão cruel? Terminei de comer e antes que tivesse uma indigestão saí da tenda e fiquei andando sem rumo pela festa. Não queria voltar pra casa, se eu voltasse era como se eles tivessem me vencido. Porém, não havia mais nada pra eu fazer lá. Se ficasse acabaria invejando a vida dos outros e comendo dezenas de coisas engordativas. ― Engordativas?! Onde será que fica a barraca de doces? Já tinha passado por ela várias vezes, mas quando estamos transtornados não enxergamos nada. Bastou abrir os olhos e levantar o rosto para encontrá-la. A Barraca das Formiguinhas é como um sonho. Colorida, mesa farta, pessoas sorridentes por motivos óbvios: Tortas, pavês, bombons, palha italiana... Chocolate, morango, maracujá, nozes, coco, abacaxi, limão, chocolate, chocolate, chocolate... Uhm... Foi uma boa idéia. ― Uma torta alemã, por favor! ― uma das minhas prediletas, chocolate, com creme e biscoito. Na primeira colherada fechei os olhos para expressar como aquilo estava gostoso. Na segunda, senti um arrepio, uma brisa que corria por dentro do meu corpo. Uma sensação gostosa... Na terceira colherada, senti meu rosto esboçar um sorriso, na quarta eu estava sorrindo e feliz. Extasiada, comecei a olhar em volta. O efeito me caiu como uma droga. Tudo estava bem de novo. Era como se eu tivesse entrado na festa novamente. Terminei meu pedaço de torta e enquanto pagava puxei papo com uma das vendedoras. Um grupo de amigos que ouvia resolveu entrar na conversa e se juntou a nós por alguns minutos. Mudei de barraca em busca de um refrigerante, balançando no ritmo da música que tocava. As pessoas ainda me olhavam, mas desta vez podia perceber que elas comentavam como eu estava bem, e que não ia demorar muito pra alguém vir me fazer companhia. Eu sorria, simplesmente sorria. No fundo, eu sabia que não era o chocolate que tinha me feito mudar de atitude, mas era um delicioso pretexto. ...

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